Deficientes podem voltar para a rua até o fim do mês caso estado não pague abrigo

Maria Isabel Abreu, de 47 anos, foi abandonada pela família. Cadeirante com paralisia cerebral, a mineira chegou ao Rio ainda criança e viveu a vida toda em abrigo. No fim do mês, ela pode ser novamente abandonada — agora, pelo governo do estado. Bebel vive no Abrigo Betel, em Duque de Caxias, financiada pela Fundação da Infância e do Adolescente (FIA) e pela Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos. No entanto, o local não recebe os repasses desde fevereiro e acumula dívidas de R$ 1,8 milhões, a mesma quantia que o estado tem que lhe pagar. Sem saída, a previsão é que, caso não haja uma solução até o fim deste mês, feche as portas.

— Eles correm o risco de ir para a rua. Não tem instituição que possa acolhê-los. Estão todas na mesma situação que a gente — conta Daniel Cavaleiro Ignácio, diretor do abrigo: — Estamos abertos até agora por doações e por quatro empréstimos que fizemos. Mas agora não dá mais. Vamos fechar se nada acontecer até lá.
No fim de 2016, o governo do estado rompeu o convênio que a FIA tinha com 109 instituições como o Betel, que tem casas em Caxias e na Mangueira onde moram 71 pessoas, entre crianças e adultos.

Dos 64 funcionários que trabalhavam no local, metade foi demitida. Quem ficou está com salários atrasados.

— O trabalho é muito árduo. A maior parte dos moradores daqui usa fraldas. Tem que ter muito amor — diz Maria José Cavaleiro Rosa da Silva, presidente do espaço.

As histórias dos abrigados são das mais variadas — em comum, o abandono muito cedo. Um dos moradores, quando era criança, vivia amarrado pelo pai e continua até hoje na posição em que era atado. Outro menino tem histórico de abuso sexual por um parente. Mas não é só a tristeza do passado que os une: eles também se encontraram no Betel.

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